Jobs - conto paródico

Conto paródico parafraseado na ideia e conteúdo da poesia "Doido" de Carlos Drumond de Andrade: Jobs

DOIDO
O doido passeia
pela cidade sua loucura mansa.
É reconhecido seu direito
à loucura. Sua profissão.
Entra e come onde quer. Há níqueis
reservados para ele em toda casa.
Torna-se o doido municipal,
respeitável como o Juiz. o coletor,
os negociantes. o vigário.
O doido é sagrado. Mas se endoida
de jogar pedra. vai preso no cubículo
mais tétrico e lodoso da cadeia.


JOBS

Seu nome é Jobs, ganhou este nome em homenagem ao Steve – Steve Jobs.
Qual motivo? Ahhhh!!! vocês saberão!
Ele passa a noite em sua confortável cama, mas não importa o tamanho dela, uma de suas pernas amanhece sempre no ar, quase atingindo o chão. Ao acordar, espreguiça longa e deliciosamente e corre para ver o dia. Ganha um reforçado café da manhã e parte à luta!
  • Oi Jobs, bom dia! - um amigo o cumprimenta e ele acena.
Mais a frente, o vizinho pergunta: - Dormiu bem Jobs, já vai tão cedo? - ele não responde, mas, sutilmente, retribui a preocupação do vizinho com um simpático olhar.
Sempre bem humorado, lá vai ele, saltitante, a pé pela rua. Ganha mais cumprimentos e alguns carinhos, mas estes são das moças...
Lindo, loiro, esbelto, cabeludo, chama sempre a atenção com seu andar charmoso e firme.
Em Crismalta, que é uma cidade pequena, todos, se não o conhecem, já ouviram falar dele.
Muito respeitado por seu físico atlético, é por muitos idolatrado e querido.
Como de costume, passeia pela praça principal da cidade e acena para quem lhe sorri. Aonde quer que ele vá é muito bem recebido e agraciado palavras carinhosas, gestos e com guloseimas e quitutes, além de poder saborear seus pratos preferidos na hora em que deseja, seja em doceria, cantina, bar ou restaurante.
Tanta admiração pode ser explicada por sua autoconfiança e formação.
Ele sabia, desde muito jovem, qual seria o caminho que iria percorrer. Sempre praticou e continua praticando muito exercícios. O dia inteiro corre, pula, sobe, desde, escorrega, arrasta pesos, entre outros tantos movimentos brutos. Mesmo em momentos apenas de entretenimento, ele se exercita jogando frescobol. Tornou-se, então, além de um grande policial, um policial grande.
Policial respeitado por seus talentos e pela coragem, mas, nem sempre compreendido. Sua maneira impetuosa de agir, embora esporadicamente, deixa rastros de valentia e crueldade; com isso, passa a ser alvo de olhares medrosos e críticos.
Jobs não dá importância ao que falam dele, ele quer é cumprir seus objetivos e defender as pessoas que ama e aqueles por quem acha justo fazê-lo.
Este jovem policial só tem um defeito, ou quem sabe uma qualidade. Ele faz o que quer, do jeito que quer, não se importando com as possíveis (inevitáveis) consequências e deixa-se guiar pelas teias da insanidade, vivenciando os mais saudáveis e cristalinos momentos alienados de um ser irracional.
Quando Jobs é acometido por impulsos neurológicos, ele passa a andar distraído, sem uma linha reta para seguir, visando apenas a arruaça que promete a diversão.
Insano, louco, ele corre como um quadrúpede, fazendo tremer sua pele e sacodirem suas bochechas. Sai derrubando as pessoas, virando cadeiras vazias ou não, puxando a toalha da mesa e levando ao chão o que estiver sobre ela. Vira vasos de plantas, desconecta cabos de antenas.
Enfrenta e depois foge daqueles seres que querem prendê-lo. Pois é. É extremamente difícil alguém conseguir agarrar Jobs.
Mas, por que Jobs? Bem... Ele mudou a maneira de usar os pequenos equipamentos tecnológicos, só que de maneira um pouco diferente da de Steve, seu homônimo.
O pai de Jobs está procurando o iPhone, sumido há dias; o iPod de seu tio foi encontrado todo destruído no jardim, e o iPad de um vizinho foi parar na vasilha de água do seu irmão Bob.
Depois de um dia com tantas emoções, Jobs acaba preso no cubículo triste e sem graça da sua casinha.
por Tânia Berti

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