Três contos sobre uma filosofia popular

A partir da filosofia popular: “As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim.”, elaborei um exemplo de:
1. Narrativa;
2. Descrição sobre um objeto: um croquete estragado, e
3. Dissertação sobre o tema: os perigos de uma alimentação mal feita.


1. Narrativa:
Charles tinha grande habilidade em atuar como comediante e sua esperteza e astúcia prometiam-lhe um futuro promissor.
Muito jovem deixou a casa da mãe e com apenas duas malas e com o que tinha de mais valioso, um solitário de ouro de 24 quilates com diamante, presente de sua mãe, partiu para outro país.
No trem, ao procurar por seu assento, deixou distraidamente cair uma foto sua, tirada por um tio, quando atuava em teatro de rua. Depois de alguns minutos uma linda e simpática jovem o segue e lhe entrega o retrato. Como o assento ao seu lado estava vago, Charles agradeceu por sua gentileza e a convidou a sentar-se, pois estava reconhecendo aquele rosto angelical. Era uma moça que ele frequentemente via em visitas um rapaz morador há alguns metros da casa de sua mãe.
Assim, após longas conversas, Charles revelou algumas preocupações causadas por sua aventura: - Estou a caminho de um novo país, bem distante do meu, e estou ciente de que ficarei diante de culturas e hábitos diferentes. Eu vou com intuito de cumprir o que me foi designado, mas me preocupo com o começo desta nova jornada.
A jovem lhe lançou, por alguns instantes, um olhar afetuoso e logo pronunciou esperançosas palavras que atingiram de cheio o espírito do aventureiro: - Tudo tem uma razão de ser, nobre rapaz! Foi certamente por algum motivo que o destino o trouxe a este trem. Saiba que precisei trocar o meu bilhete às pressas. Há dois dias recebi um telefonema de meu pai para que eu antecipasse a minha viagem a Londres, pois, também teria sido antecipada a homenagem e a entrega do prêmio que a ele será oferecido como melhor roteirista de filmes clássicos americanos. Por isso, precisei trocar o dia e horário da passagem.
Os verdejantes olhos de Charles brilharam e, eufórico comentou sobre a incrível semelhança: - Veja que coincidência, seu pai e eu temos o mesmo gosto para profissão. Somos atraídos pela magia da linguagem artística. Sou ator, atualmente de teatro, mas meu desejo é atuar no cinema.
A moça com expressão admirada disse: - Não te falo que tudo tem uma razão de ser? Veja o quanto esta viagem de trem lhe pode proporcionar de bom.
E sagazmente complementou: - Amizades novas, boas influências... Quem sabe meu pai não poderá ajudá-lo?!
Estarrecido diante da bondade da visionária moça, abriu um sorriso que lhe ocupou toda a face. (Perante a sorte que estava batendo à sua porta, estaria ele mais alegre pelo futuro emprego ou pela futura namorada?)
O ingênuo Charles, perguntou: - Será que seu pai me conseguiria um emprego no cinema?
De pronto teve uma resposta positiva.
Alegres continuaram a conversar até a estação, a qual trocariam de trem, e onde o justo rapaz, não carregaria apenas as suas, mas também, as malas daquela a quem ele seria um eterno agradecido.
A pedido da moça, caminharam a pé por uma estreita estrada de chão até chegarem a um grande galpão ocupado por alguns funcionários que faziam carregamentos para vagões.
A moça perguntou por seu irmão que logo surgiu por entre algumas caixas, dizendo que ela tinha acabado de perder o expresso com destino ao centro de Londres e que não chegaria a tempo de ver a entrega do prêmio.
A jovem caiu em prantos e na tentativa de consolá-la, o desconhecido, mas esperançoso ator, em alto tom disse: - Você não perderá a homenagem a seu pai, darei um jeito, nem que para isso eu tenha que pagar para alguém nos levar de automóvel.
Com eficácia, o possível futuro cunhado, se ofereceu para procurar por algum motorista que estivesse disposto a fazer tal trajeto. E, diante da resposta, por ele já esperada, do afoito rapaz que queria ver sua bela amiga parar de chorar, recorreu ao telefone do local.
Após algumas ligações, voltou informando que se o jovem quisesse pagar bem, o carro chegaria em cerca de trinta minutos.
Prontamente, recebeu como resposta um aceno positivo feito com a cabeça. E assim despreocupado, disse que ainda haveria tempo para um lanche ligeiro no botequim da região, onde com frequência seu pessoal ia comer os croquetes do senhor Rivelino.
A moça, já recuperada e mais contente, o seu irmão e o futuro ator de cinema seguiram em direção ao bar e degustaram dos tão cheirosos e apetitosos croquetes de carne, fresquinhos e fritos na hora.
Passados exatamente trinta minutos um homem de meia idade estacionou seu Lincoln em frente ao bar, abriu as portas, recolheu as bagagens, abriu seu paletó deixando visível uma arma de fogo e estendeu a mão: - Fica em duas mil libras esterlinas.
O rapaz ficou branco, gelado e olhou para a moça que se mantinha calma, mas que externava um aflito suspiro.
Por mais alguns instantes, estarrecido, o rapaz tirou de sua bolsa o anel e ofereceu ao motorista que rapidamente o pegou e disse: - Está bem, eu não deveria, mas aceito esta jóia, mas não dou troco!
O moribundo ator ergueu a cabeça e sorriu, pois em pouco tempo ele estaria perto de ver realizarem-se os seus sonhos.
Cerca de uma hora, ao chegar em frente a uma construção antiga, com muros em ruínas, o motorista parou, saiu do carro e abriu o portão. Seguiram por um caminho mais ou menos longo até a casa.
Enquanto o motorista foi manobrar o carro, os passageiros entram em uma pequena e fria sala londrina.
A dama, apenas com sua bolsa de mão, disse para seu irmão entrar no grande salão e procurar lugar para todos, enquanto ela retocaria a maquilagem, e pediu ao Charles que a esperasse um pouco ali mesmo na antessala.
O ator, tomado por um sentimento de incertezas e de expectativas, aguardou sentado no desconfortável banco do teatro... por muitas horas...

Pois é, “as três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim.”


2. Descrição: “croquete de botequim”
- Seu policial eu já contei tudo que me aconteceu! Cabe agora a lei tomar as devidas providências e me liberar para seguir minha vida. Novamente, vou seguir minha trajetória rumo ao meu sonho e ninguém o arrancará de mim. A única coisa “quase” boa que me agradou nesta história toda foi aquele croquete!
Os policiais perguntaram sobre o que ele estava falando.
E ele respondeu: - Seu guarda, o senhor já provou daqueles salgadinhos de botequim? - Falo daqueles que nos atraem quando passamos em frente à vitrine sobre a qual eles são distribuídos igualmente um ao lado do outro e que juntos transmitem ao nosso olhar a mais bela miragem formada pelo ar esfumaçante e quente que ao conseguir romper o vidro nadam flutuantes aos nossos olfatos causando-nos a glória inesperada. Irresistivelmente, somos atraídos e vencidos. De mesmo tamanho e formato e com a mesma textura crocante as delícias salgadas são artisticamente criadas com a finalidade de nos levar ao êxtase quando os levamos à boca suculenta de prazer. A consequência desta ingestão só saberemos no dia seguinte e não convém comentar.
- Como disse, a única coisa “quase” boa que me aconteceu foi aquele croquete magnificamente delicioso que comi no bar perto de Londres. Quando fui me aproximando da vitrine tive agraciado meu olfato com seu aroma estupeficante. Ele era tão perfeito, lindo, com formato redondo, todo por igual, e sua cor caramelo sobreposta ao bege, dando um especial colorido de enriquecer os olhos. Que prazer em pegá-lo, senti-lo quentinho, pois haviam acabado de fritá-lo, e quando o levei à boca, senti que estava no paraíso, pois nunca havia provado textura tão crocante e com sabor inigualável. Entretanto, foram apenas alguns segundos no oásis, pois tive uma grande intoxicação alimentar.

Assim eu, literalmente, transcrevo as palavras de um autor desconhecido:
“As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim.”


3. Dissertação argumentativa de consenso: “Os perigos de uma alimentação mal feita”
Se quisermos prender a atenção de alguém, podemos fazê-lo por diferentes maneiras. Podemos atraí-lo através da construção visual, olfativa, gustativa, entre outras. Por exemplo, diante de uma vitrine magnificamente adornada por pequenos pedaços salgados de prazer que compactuam em exalar aromas, ficamos estarrecidos, mas podemos lutar e nos afastar.
O grau de facilidade para nos afastar dependerá, é claro, primeiro da nossa força de vontade e depois da estratégia usada e o tamanho da intensidade com que foi lançada por alguém ou algo.
A imagem fornecida por aqueles inocentes croquetes agrada e atrai, portanto, se seu admirador tiver sensibilidade pelo visual, mais rápido e facilmente ele se deixará envolver, ou melhor, mais rapidamente ele o degustará.
Se aquele croquete suculento e crocante exercer eficazmente a tarefa de emitir seu perfume pecaminoso, ele envolve o seu receptor de maneira irresistível. E, se ainda, o salgadinho for sutilmente mordido e seu sabor percorrer todas as papilas gustativas, está vitoriosamente terminada sua operação, pois seu degustador pode querer mais.
Desta forma, geralmente as coisas que chamam a atenção pela beleza que muito alegra os olhos, pelo sabor agradável e por algo que possa transmitir uma possível segurança, mas que é uma falsa ideia (armas de fogo), levam a fazer escolhas equivocadas sobre as quais surgirão consequências desastrosas.
Isto significa que todas as coisas, embora atraentes, podem trazer problemas e aborrecimentos e devem ser afastadas.
Portanto o dito popular “as três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim” nos leva ao pensamento de que: é preciso analisar as possíveis ações e reações, pois, como no caso do croquete de botequim, nada adianta um apreciador de salgadinhos ser atraído por sua beleza, aroma e paladar, se mais tarde no mínimo ele terá uma desagradável surpresa digestiva.
E ainda, o fator crítico maior não está em uma pessoa ter uma indisposição por ingerir apenas um ou outro salgadinho, mas em não possuir uma dieta alimentar saudável, com alimentos de baixo teor de gordura, rica em vitaminas, composta por carboidratos, proteínas, fibras e cálcio, além de outros minerais, contudo, sem abusos e sem exclusões.
O que as vezes pode ser mais saboroso, ter ótima aparência e de aroma irresistível pode também contém ingredientes perniciosos à saúde física. Outro fator importante e responsável pela confiabilidade de um alimento saudável é o seu preparo, pois às vezes o modo de como é feito não condiz com o correto e a saúde pode ficar vulnerável e suscetível a riscos.
E sendo a nossa saúde o bem mais valioso que possuímos, temos a obrigação de cuidar dela evitando os perigos de uma alimentação mal feita.
por Tânia Berti

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