--> baseado em minha monografia do curso de Letras
Antônio Vieira nasceu em Lisboa, no dia 06 de fevereiro de 1608 e faleceu na Bahia, no dia 18 de julho de 1697, aos 89 anos.
Antônio Vieira nasceu em Lisboa, no dia 06 de fevereiro de 1608 e faleceu na Bahia, no dia 18 de julho de 1697, aos 89 anos.
Vieira veio muito novo com a família para o Brasil, onde passou grande parte de sua vida.
Estudou teologia em Salvador, na Escola Jesuítica e, com 26 anos, ordenou-se padre.
Estudou teologia em Salvador, na Escola Jesuítica e, com 26 anos, ordenou-se padre.
Viveu entre Brasil e Portugal, mas desempenhou missões na Itália, na Holanda e na
França. Foi confessor da Rainha de Portugal, conselheiro e homem de
confiança do Rei D. João IV e exerceu cargos da sua Ordem no
Brasil.
Tinha
o pensamento sempre voltado para o bem e em defesa do ser humano. E,
ao atentarmos para a visão utópica que perpetuou por toda a sua
vida, podemos descobrir o quanto Vieira era ávido de justiça e de
generosidade, pois era profundo conhecedor do ser humano e das
intemperes provenientes da vida material. Este brilhante e resoluto
espírito fundamentou em artifícios linguísticos e estilísticos
repletos de intencionalidades e em recursos argumentativos a
construção de um império na literatura mundial.
B.Baldissara - Rio - 1925 |
Vieira
vivia em uma época em que havia muita carência moral e espiritual,
em que tudo era repleto de religiosidade, e as pessoas necessitavam
de esclarecimentos cristãos. Contudo, a Igreja Católica era
dominante e queria manter seus padrões doutrinários, sobre o qual o
clero e fiéis tinham que seguir e obedecer a suas normas. Surge
então, o destemido e revolucionário Vieira, que tinha a
inteligência, sabedoria, astucia e energia a seu favor e que com o
intuito de propagar suas ideias, sem esmorecer, enveredou por uma
trajetória repleta de lutas e infortuitos, rumo ao sonho de livrar o
ser humano do grande mal da ignorância espiritual, fazendo-o
despertar para o verdadeiro sentido da vida, reconhecendo suas
virtudes e a de seus semelhantes.
Como
padre, teve oportunidade de ver e analisar de perto quais eram os
ensinamentos cristãos
transmitidos ao povo e, ao mesmo tempo, podia inteirar-se da sua
reação, de como pensava e vivia entre dúvidas e pertubações
psíquicas. Ocupando tal posição clerical, pode desfrutar da
liberdade conquistada no púlpito, de onde ele falava com coragem e
franqueza sobre os problemas existenciais, sociais e políticos,
sempre relacionando-os aos textos bíblicos, pois que, além de
difundir os ensinamentos de Cristo, era certamente, a princípio, uma
maneira mais rápida para ser ouvido.
Vieira também
tinha a seu favor as amizades que conquistou na Igreja e na corte; a
admiração do povo e da nobreza e, aproveitando as oportunidades
surgidas no seu caminhar terreno, soube usar seus atributos
intelectuais e culturais. Assim, profundo conhecedor dos elementos
linguísticos e estilísticos, e imbuído da visão clássica como a
retórica aristotélica, construiu com eficácia seu vasto e rico
império literário.
Como pregador, Padre
Antônio Vieira tinha na palavra um perfeito equilíbrio. Dono de
rara e extraordinária inteligência e cultura e dono
de estilo profético, doutrinário e literário inigualável, levava
através da oratória muitas riquezas gramaticais, linguísticas,
intertextuais e interculturais, atraindo
grande número de ouvintes.
Os Sermões Vieirenses, repletos de eloquência e
objetividade, distribuem uma gama de verdades e justiças, por isso
seu autor foi tão admirado, mesmo tendo sido alvo de perseguições
por seus adversários, que se sentiam ameaçados por suas escritas.
Como Antônio Vieira nem sempre estava de acordo com os dogmas da
Igreja, adquiriu um grande número de desafetos, chegou a ser preso,
julgado e condenado a passar alguns anos sem poder pregar em público.
Mesmo assim, sempre
fiel aos princípios do verdadeiro cristianismo, não se deixava
abater.
Assuntos como
religião, política, conflitos sociais cobrem um rico e vastíssimo
campo na literatura mundial de Vieira,
do qual compreendem as profecias: Histórias
do futuro, Esperanças de Portugal, e Clavis prophetarum (Chave das
Profecias); as
Cartas
que são em mais de quinhentas, nas quais constavam assuntos
políticos da época, como a situação do Brasil, o relacionamento
entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os Cristãos Novos,
e os Sermões,
pregados entre Brasil e
Portugal, índios e colonos, entre os escravos e seus senhores e
entre os nobres.
Fazem parte da
oratória barroca aproximadamente duzentos discursos enriquecidos de
imagens alegóricas e metafóricas, antíteses, paradoxos e
repetições constantes que causavam grande impacto nos ouvintes.
A linguagem
utilizada por Antônio Vieira revelava seu talento, sensibilidade e
erudição. Temas como, acontecimentos de ordem moral e social unidos
a princípios bíblicos formavam as mais belas construções
retóricas e intertextuais.
Combatendo sempre
as atitudes desonestas e injustas, utilizava-se da pragmática e de
uma linguagem simples para aproximar seus ouvintes, fazendo-os
despertar e a se corrigirem.
Forte esbravejador
e com espírito repleto de força de vontade e resignação, o padre
trilhava rumo ao êxito, sem medir esforços para alcançar seus
propósitos e esperançoso fazia tudo para ver sua utopia realizar-se
e na maestria de ações incomparáveis e imbuído de bons
pensamentos, astuciosamente, utilizou-se da liberdade de seu
pensamento para fazer transições imprevistas, inteligentes e
surpreendentes, e assim, impressionar, comover e cativar o ouvinte.
Para ilustrar a sua
maneira dialética e retórica no pregar, enriqueceu os seus sermões
com alegorias, metáforas, ironias, antíteses, paradoxos e recursos
da repetição.
Antônio
Vieira, que
teve uma
extensa trajetória humanitária e literária, seguiu
a sua vida inteira com um ideal a ser comprido: promover a renovação
moral e espiritual da humanidade.
Dotado de uma notável faculdade
observatória e criativa conhecia a carência do homem e o que este
homem precisava ouvir. Usando de todos seus atributos linguísticos,
retóricos e cristãos fez do poder
da palavra proferida, através da voz e dos escritos, vibrar almas e
transformar atitudes humanas. Assim,
com afinco e imensa sabedoria, construiu textos iluminados e lapidou
caráteres com intenção de levar a todos, esclarecimentos
moralizadores e cristãos.
Vieira lembrava
ao seu público de que todos nasceram iguais e da mesma origem, mas
foram distanciando-se deste
pensamento e, por conseguinte, foram atraindo as desavenças.
Contudo,
profundo conhecedor dos ensinamentos do clero, o missionário
passou a transmitir a palavra de Cristo como se deveria, pautada
unicamente na verdade, moldando-os às suas construções retóricas
para atrair o público ouvinte e leitor para despertá-los e
incentivá-los a caminharem de fronte erguida, rumo ao verdadeiro
conhecimento de si mesmos e do mundo.
Outra
consideração significativa que podemos tecer seria sobre o uso de
sua retórica. Compreendida,
mesmo que de forma não profunda, a estrutura do pensamento criativo
e formação da inteligente
obra literária do pregador, somos talvez capazes de perceber que “a
verdadeira retórica reside em escondê-la”, conforme
BESSELAAR.
Podemos
entender, entretanto, que a maneira com que Vieira
fazia uma
construção doutrinária
era tão natural e espontânea que seus ouvintes
admirados, nem podiam perceber que sua obra estava repleta de
técnicas com a finalidade de persuadi-los à edificação
moral e espiritual.
Vale lembrar que
os problemas políticos, as desigualdades sociais, os conflitos
étnicos e raciais, assim como os existenciais, assemelham-se aos
tempos atuais, portanto haveria necessidade de serem
lidas e relidas as obras vieirianas.
Se a humanidade
tivesse seguido com firmeza e fidelidade os preceitos deste jesuíta
não teria havido, ao longo deste tempo, tantos sofrimentos, tantas
amarguras e dores materiais e morais. Arriscamo-nos a dizer que a
sociedade de hoje seria formada por pessoas mais conscientes, mais
justas e mais felizes.
Assim,
esperançosamente, gostaríamos que houvesse mais pessoas
conhecedoras e praticantes dos ensinamentos do imortal Antônio
Vieira. Este grande símbolo de bondade que lutou para libertar o
homem de sua própria ignorância.
Com
grande prazer foram estudados os materiais aplicados neste trabalho e
com tamanha admiração ao autor, penso na possibilidade de estender
o tema ou pesquisar sobre temas semelhantes em outros momentos.
por
Tânia Berti