Todas vão dormir,
ficando de vigília apenas a “escovada”, que ao cair da noite
começa com seus lamúrios. Um gemido, dois,... O terceiro parece não
aguentar. A dor proporcionada pelo seu coração, ecoa pelo silencio.
E seus amigos estarrecidos com seu sofrimento, permanecem quietos.
Enquanto isto, “ele”
dorme!
Do lado de fora,
pontinhos de luz se unem para enfeitar o traje da “exuberante”,
que enaltece céu e terra com seu brilho mágico, iluminando o voo
predador, que solitário, grita à procura de sua presa.
De sono leve, fica à
espreita, o morador da casa ao lado, que insiste em conversar com os
galhos que se abanam de calor, atrapalhando o descanso alheio,
recebendo contestações de seus irmãos, amigos, e primos.
O silencio volta reinar!
E ele dorme! Dorme?
A “exuberante” sai
devagarinho, já com outra vestimenta, dando vez ao “espaçoso”,
que chega caloroso, mostrando sua grandeza.
Os “pequeninos”,
barulhentos, presenteiam a todos com seus cantos graciosos, esperando
como recompensa, no telhado da frente, o café da manhã.
E “ele” acorda!
Estica todos seus nervos e músculos, pois ossos, ele parece não
ter. Boceja e oferece seu primeiro “bom dia”, depois, dá
continuidade aos outros cumprimentos.
As “meninas” verdes,
coloridas, com seus caules e folhas banhadas pelo orvalho, sorriem
para o dia.
“Ele”, me pede
carinhosamente para sentir o calor que vem do céu e brincar de pegar
com os “pequeninos”. - Que brincadeira! É de tirar o folego (dos
“pequeninos”, é claro)! Quem vencer, ganha a vida ou uma
refeição suplementar.
Algumas horas se
passam...
Depois de muito
assediadas, algumas “meninas”, as mais frágeis, com triste
semblante, desmaiam depois de suplicarem por socorro. É preciso
correr e levá-las a um lugar onde o “grandalhão” não consegue
alcançá-las. E então, molhá-las e reanimá-las. As “outras”
mais exigentes, de forte opinião, que não gostam de serem tiradas
de seus lugares, essas reclamam, choram, fazem chantagem,
desmonhecando-se, tirando o brilho de sua maquilagem e não crescem,
nem se ganharem mais água e mais comida. Se não forem feitas as
suas vontades, elas se vão, sem olhar para trás.
Como nem todos os agrados
são cantos, carinhos e miados, as vezes, somos obrigados a carregar
pedras. Aquelas que gemem do outro lado da rua, quando são cortadas;
aquelas que ferem com agudez quando alguém aperta um botão lá no
portão, e mais...
Agora, é minha vez de
correr atrás “dele” e lembrá-lo de tirar uma soneca. Sua
cabecinha cai repentinamente, mas ele reluta, reluta, e acaba
vencido, caindo no sono da beleza. E “ele” dorme! Só desperta
mais tarde quando seus aguçados ouvidinhos os fazem lembrar da hora
do jantar. Neste instante a “escovada” retoma seu ensaio.
por
Tânia Berti