Conto - 24horas


Todas vão dormir, ficando de vigília apenas a “escovada”, que ao cair da noite começa com seus lamúrios. Um gemido, dois,... O terceiro parece não aguentar. A dor proporcionada pelo seu coração, ecoa pelo silencio. E seus amigos estarrecidos com seu sofrimento, permanecem quietos.

Enquanto isto, “ele” dorme!



Do lado de fora, pontinhos de luz se unem para enfeitar o traje da “exuberante”, que enaltece céu e terra com seu brilho mágico, iluminando o voo predador, que solitário, grita à procura de sua presa.
De sono leve, fica à espreita, o morador da casa ao lado, que insiste em conversar com os galhos que se abanam de calor, atrapalhando o descanso alheio, recebendo contestações de seus irmãos, amigos, e primos.

O silencio volta reinar! E ele dorme! Dorme?

A “exuberante” sai devagarinho, já com outra vestimenta, dando vez ao “espaçoso”, que chega caloroso, mostrando sua grandeza.
Os “pequeninos”, barulhentos, presenteiam a todos com seus cantos graciosos, esperando como recompensa, no telhado da frente, o café da manhã.

E “ele” acorda! Estica todos seus nervos e músculos, pois ossos, ele parece não ter. Boceja e oferece seu primeiro “bom dia”, depois, dá continuidade aos outros cumprimentos.

As “meninas” verdes, coloridas, com seus caules e folhas banhadas pelo orvalho, sorriem para o dia.
“Ele”, me pede carinhosamente para sentir o calor que vem do céu e brincar de pegar com os “pequeninos”. - Que brincadeira! É de tirar o folego (dos “pequeninos”, é claro)! Quem vencer, ganha a vida ou uma refeição suplementar.

Algumas horas se passam...

Depois de muito assediadas, algumas “meninas”, as mais frágeis, com triste semblante, desmaiam depois de suplicarem por socorro. É preciso correr e levá-las a um lugar onde o “grandalhão” não consegue alcançá-las. E então, molhá-las e reanimá-las. As “outras” mais exigentes, de forte opinião, que não gostam de serem tiradas de seus lugares, essas reclamam, choram, fazem chantagem, desmonhecando-se, tirando o brilho de sua maquilagem e não crescem, nem se ganharem mais água e mais comida. Se não forem feitas as suas vontades, elas se vão, sem olhar para trás.
Como nem todos os agrados são cantos, carinhos e miados, as vezes, somos obrigados a carregar pedras. Aquelas que gemem do outro lado da rua, quando são cortadas; aquelas que ferem com agudez quando alguém aperta um botão lá no portão, e mais...
Agora, é minha vez de correr atrás “dele” e lembrá-lo de tirar uma soneca. Sua cabecinha cai repentinamente, mas ele reluta, reluta, e acaba vencido, caindo no sono da beleza. E “ele” dorme! Só desperta mais tarde quando seus aguçados ouvidinhos os fazem lembrar da hora do jantar. Neste instante a “escovada” retoma seu ensaio.
por Tânia Berti 

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